As moedas falsas não são novidade, mas vêm aparecendo com mais frequência em feiras, lojas virtuais e até em trocos do dia a dia. Segundo dados da Polícia Federal divulgados em 2023, apreensões de lotes adulterados cresceram 18 % em relação ao ano anterior. Para quem coleciona ou apenas aprecia numismática, aprender a identificar falsificações é essencial: evita prejuízos financeiros, protege o valor histórico das peças e ajuda a coibir atividades criminosas. Neste guia, mostramos sinais visuais, testes práticos e cuidados que todo colecionador precisa adotar.
O avanço das falsificações: panorama recente e motivos
Nos últimos cinco anos, o Banco Central do Brasil confirmou o surgimento de moedas falsas com grau de acabamento cada vez mais sofisticado. Impressoras 3D de alta definição, fundição caseira acessível e tutoriais na internet criaram um ambiente propício para golpistas. Além disso, o preço de metais como cobre e níquel subiu mais de 40 % desde 2020, encorajando a produção de ligas mais baratas que imitam o aspecto original, mas reduzem custos aos criminosos.
A Operação Êrebo, concluída em junho de 2023, ilustra o problema: a PF desmantelou uma quadrilha que distribuía 120 mil unidades adulteradas por mês em seis estados. Muitas iam parar em leilões on-line, onde a verificação física prévia é limitada. Para o colecionador, a lição é clara: sempre suspeitar de ofertas com preços muito abaixo da média e exigir certificado de procedência.
Elementos de segurança nas moedas oficiais brasileiras
Antes de procurar defeitos, é preciso conhecer as características originais. A Casa da Moeda utiliza pelo menos cinco camadas de segurança em cada cunhagem:
- Bordo especial – Sulcos alternados e inscrições que dificultam cortes ou lixamentos.
- Micrografia – Letras de menos de 0,3 mm visíveis apenas com lupa 10×.
- Bimetalismo – Aro de aço inox e núcleo de bronze-alumínio nas moedas de R$ 1.
- Relevo negativo – Trechos afundados, não em alto-relevo, criam contraste de profundidade.
- Precisão de peso e diâmetro – Tolerância máxima de 0,03 g e 0,02 mm.
Qualquer divergência nesses quesitos pode indicar moedas falsas. O Banco Central recomenda comparar sempre com um exemplar sabidamente autêntico da mesma tiragem.
Técnicas caseiras para detectar moedas falsas
Nem todo colecionador dispõe de aparelhos sofisticados. Felizmente, alguns testes simples ajudam a filtrar suspeitas:
- Teste do peso – Use uma balança de precisão (0,01 g). Variações acima de 3 % sinalizam problema.
- Magnetismo – As moedas de R$ 1 não devem ser atraídas por ímã; já as de R$ 0,50 e R$ 0,25, sim. Resultado invertido? Grandes chances de falsificação.
- Som metálico – Deixe a peça cair sobre superfície de vidro. O timbre deve ser limpo e agudo. Ligas pobres produzem som opaco.
- Análise com lupa – Observe detalhes como micrografia e transição de metais. Rebarbas ou linhas borradas revelam cópias.
- Reação a vinagre – Uma gota de vinagre branco escurece ligas de ferro em minutos; bronze autêntico quase não muda de cor.
Realizar dois ou mais desses procedimentos diminui significativamente o risco de aceitar moedas falsas.
Equipamentos profissionais e boas práticas para colecionadores
Quem leva a numismática a sério costuma investir em ferramentas que aumentam a assertividade:
- Medidor de densidade – Combina peso e volume, oferecendo leitura exata da liga metálica.
- Lâmpada UV – Alguns emissores lançam filamentos fluorescentes sobre o metal, invisíveis a olho nu.
- Microscópio digital – Ampliação de 50× a 1000× ajuda a enxergar marcas de torno ou impressoras 3D.
- Calibrador digital – Mede diâmetro interno e externo da borda, detectando usinagens irregulares.
Além do aparato, mantenha registros fotográficos em alta resolução e notas de compra. Documentos de procedência — recibo, certificado de autenticidade ou laudo pericial — valorizam a coleção e servem de prova em caso de litígio. Armazenar as peças em porta-moedas antiestáticos, longe de umidade, também evita corrosão que possa mascarar características originais.
Encontrei uma moeda falsa, e agora?
A legislação brasileira é clara: o artigo 289 do Código Penal prevê reclusão de até 12 anos para quem falsifica ou coloca moedas falsas em circulação. Ao identificar uma peça suspeita, siga estes passos:
“Jamais tente revender ou ‘passar adiante’. Isso caracteriza crime mesmo que você não tenha sido o falsificador”, adverte o perito criminal César Oliveira, em entrevista ao portal BC+.
- Separe a moeda em envelope individual, sem marcar a superfície.
- Anote local, data e circunstâncias em que recebeu a peça.
- Compare com exemplar autêntico; se a suspeita persistir, procure uma agência do Banco do Brasil. O banco recolhe e envia a moeda ao Banco Central para perícia.
- Registre boletim de ocorrência se houver indícios de comércio deliberado de falsificações.
O relatório oficial do BC devolve um vale-intenção que pode ser trocado por moeda legítima caso a falsificação seja confirmada. Dessa forma, além de proteger seu acervo, você contribui para estatísticas que embasam novas operações policiais.
Dominar essas técnicas e rotinas transforma qualquer entusiasta em uma primeira linha de defesa contra moedas falsas. Com atenção aos detalhes, uso de ferramentas adequadas e compra consciente, sua coleção permanece íntegra e valorizada por muitos anos.